Dec 7, 2020
Em noite nenhuma, embora não fosse qualquer, o trem tirou o grito da boca de alguém. Foi a catarse de um catador. Neste momento, com o mesmo silêncio que antecede palavras últimas, ele esquece a respiração e suspende o tempo. Aquele nem sequer era momento e a máquina bruta soube dizer o que homem nenhum saberia. Se furtou seu grito, o encheu de silêncios. E estes, mais do que palavra nenhuma, são o que mais se compartilha entre as vozes. Inspira — aquele grito teatral era o seu próprio grito — e expira. E em pensamento nenhum interrompe: “Quanto não valia um trem na sucata?”