A ponte sustentava o plástico versículo que fora pichado ao lado de uma antiga declaração de amor — já outras águas passavam por ali debaixo. Quem foi o suposto amante que pintou sua fantasia ao lado de uma profecia? Que viagens fazia a pescadora no fim da tarde, ali embaixo, estatuática, tão certa de que peixe algum moveria aquele caniço? Claro, pensava que ele a segurava, também que o fio de náilon suspendia o caniço e, por fim, que o anzol enganchado no líquido, firmava tudo. Ela, atingida, calava sobre a salvação dos motoristas, sobre as iscas e sobre a paixão, com os olhos firmes na correnteza que a atravessava sem a movimentar e transformava cada momento em águas passadas.